15 de setembro de 2014

Monumento & Patrimônio

Monumento & Patrimônio


Monumento 

  • É um instrumento de memoria;
  • Um artefacto de qualquer forma ou natureza;
  • Feito por um grupo humano, destinado a rememoração e comemoração de fatos, indivíduos e crenças, etc.. 
  • É uma constante cultural e está presente em todos os povos e culturas.

Monumento Histórico 

  • É uma criação da cultura da Europa Ocidental. 
  • É escolhido entre os edifícios antigos por seus valores históricos e artísticos tenha sido ele ou não edificado com intensões memoriais. 
  • Apareceu sob a denominação de “antiguidade”, no seculo XV na Itália e seria somente a partir do seculo XIX que se trataria de sua preservação e restauração. As prescrições atuais para a conservação de monumentos só seriam generalizáveis se houvesse uma “ocidentalização” completa do mundo. 
  • Temos em relação aos edifícios religiosos duas tradições, a budista, semelhante a ocidental e a xintoísta que promove a reconstrução dos templos periodicamente pois, nessa visão, a destruição e reconstrução são necessárias de modo a purificar tanto o local como a matéria.

Patrimônio

  • O termo "patrimônio", para Françoise Choay, está na origem ligado às estruturas familiares, econômicas e jurídicas de uma sociedade estável, enraizada no espaço e no tempo, hoje requalificado por diversos adjetivos (genético, natural, histórico, entre outros) que fazem dele um conceito "nômade", sendo com freqüência empregado cotidianamente para designar um conjunto de bens, materiais ou não, direitos, ações, posse e tudo o mais que pertença a uma pessoa, ou seja suscetível de apreciação econômica.
  • Traduzido em inglês como heritage, e em espanhol como herencia, "patrimônio" traz no conjunto de seu significado uma relação estreita com a idéia de herança: "algo que é transmitido, segundo as leis, dos pais e das mães aos filhos", ou, na visão do cientista social Radcliffe-Brown [1989], traduzido como "a transferência de status baseada na relação existente entre dois membros de um grupo social, entre aquele que transmite e o que recebe."
  • Choay comenta que essa transmissão ou transferência de uma geração para a seguinte, seja de uma propriedade considerada como patrimônio do grupo e da família, ou do status relativo a tal propriedade, é de vital importância para a continuidade de um grupo social. Essa passagem é feita na forma de herança de bens e de práticas sociais.

Bibliografia:

CHOAY. Françoise. Alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade, Unesp, 2001

12 de setembro de 2014

Restauro Científico

Restauro Científico

  • Surgiu na primeira metade do seculo XX
  • Gustavo Giovanonni, arquiteto, engenheiro e historiador de arte foi quem defendeu estas teorias e um dos mais importantes intervenientes na Conferência de Atenas de 1931 e da qual resultou a Carta de Atenas.
  • Foi uma reelaboração do Restauro Moderno e que qualquer restauro deverá ser sempre executado em ultimo caso.
  • Sempre documentado e identificado para que se diferencie do original. 
  • Prega a necessidade de tornar a restauração um ato científico, que seguisse princípios e métodos cientificamente determinados.
  • Seus projetos devem baseados em estudos rigorosos com atenção maior ao valor documental e histórico do que ao valor artístico e estético.
  • Aceita tecnologias modernas quando necessário e solicita um planejamento urbano com ênfase nos centros históricos e seus valores.
  • é uma operação que se limita a consolidar, recompor, valorizar os traços remanescentes de um monumento.
  • Problema: sua excessiva preocupação com os aspectos históricos e seu valor documental passou a ser um problema no pós guerra, pois tornava a tarefa de restauro muito engessada, era preciso então um método onde cada caso deveria ser analisado de forma crítica, constituindo uma realidade em si e não podendo ser enquadrado em modelos pré estabelecidos. 
Gustavo Giovannoni - 1873/1947

Gustavo Giovannoni, foi:

  • Um dos mais importantes intervenientes da Conferência de Atenas de 1931, da qual surgiu o primeiro documento internacional publicado no sentido de considerar universais certas regras de protecção e salvaguarda de monumentos: a Carta de Atenas. 
  • contra os acrescentos a que chama de "restauro de inovação" - caso os acrescentos sejam absolutamente necessários, estes deverão ser identificados e datados, através da utilização de novos materiais que se adaptem harmoniosamente aos originais. No entanto os complementos que se sobrepuseram no edifício devem ser respeitados e identificados, podendo ser removidas as partes sem valor que com a sua remoção não afetem o edifício.
  • Especial preocupação com as estruturas, com os materiais utilizados na construção e com as técnicas construtivas, devido talvez à sua formação na área da engenharia. Defende por isso o recurso a técnicas modernas, inclusive a utilização de betão armado, em intervenções de consolidação, reparação e reforço do edifício, de modo a aumentar a resistência da construção.
Nota sobre Restauro Moderno:
  • Os monumentos eram considerados como documentos da história da humanidade.
  • Prioriza-se a sua conservação e manutenção
  • O restauro, só em ultimo caso.
  • Ser amplamente documentado, deixando marcas dessa intervenção para que não se confunda com o edificio primitivo e que não alterem o equilibrio da composição.
  • Os princípios do restauro moderno nortearam a escola italiana de restauro consolidada em 1883 na “Carta de Restauração”, de grande influência nos documentos internacionais posteriores

Carta de Veneza de 1964

Carta de Veneza 1964
  • Necessidade de que se formulassem princípios válidos internacionalmente e que cada país os pode-se aplicar de acordo com a realidade local.
  • Foi uma sintese das teorias de até então, onde houve a necessidade de esclarecer a terminologia devido à forte influencia de Viollet-Le-Duc e a "conservação".
  • O principio básico era o de ao se restaurar um edifício histórico, preservar tanto a obra de arte como o testemunho histórico que vai ser o mesmo alicerce do "restauro crítico".
  • Ampliou-se a noção de patrimônio não só aos monumentos "maiores", às criações grandiosas e isoladas mas, também aos seu entorno e obras modestas que com o decorrer da história assumiram significação cultural.
  • Incentivar o uso do monumento de modo que o tornasse útil à sociedade contemporânea, um principio para os projetos de reutilização que se seguiram, inserindo a restauração no quadro social, econômico e cultural dos diversos países.
  • embora limitada na sua influência no campo legislativo, teve um papel relevante na formação e orientação de numerosos restauradores, sendo a base de referencia para importantes trabalhos neste campo
Ver o post: Restauro Crítico

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10 de setembro de 2014

Restauro Crítico

  • foi criado nos 40 do Século XX
Renanto Bonelli em 1958 mostrou como o "restauro científico" poderia ser limitado e assim expôs sobre o assunto:
"A nova e moderna teoria parte de um procedimento lógico que aplica ao tema a estética espiritualista: se a arquitetura é arte, e por consequência a obra arquitetônica é obra de arte, o primeiro dever do restaurador deverá deverá ser o de individualizar o valor do monumento, ou seja, reconhecer neste a presença maior ou menor da qualidade artística. Mas esse reconhecimento é ato crítico,  juízo fundado sobre o critério que identifica no valor artístico e, por isso, nos aspectos figurativos, o grau de importância e o valor mesmo da obra; sobre isso é fundado o segundo dever, que é o de recuperar , restituindo e liberando, a obra de arte , vale dizer o complexo inteiro de elementos figurativos que constituem a imagem através dos quais esta realiza e exprime a própria individualidade e espiritualidade.
Qualquer operação deverá estar subordinada ao objetivo de reintegrar e conservar o valor expressivo da obra, uma vez que o objetivo a alcançar é a liberação da sua forma verdadeira .
Ao contrário, quando as destruições forem tão graves a ponto de ter grandemente mutilado ou destruído a imagem, não é absolutamente possível reaver o monumento; este não pode ser reproduzido, dado que o ato criador do artista não é repetível."
"Dessa imposição derivam os critérios a adotar, os quais constituem uma radical transformação e um revirar de método filológico: a necessidade de eliminar as sobreposições e adições, mesmo se notáveis e de valor como linguagem e testemunho, que possam prejudicar e lesar a integridade arquitetônica-figurativa, alterando a sua visão; a proibição de reconstruir quando as destruições tenham causado a perda da unidade figurativa; a legitimidade de reconstruções, contando que absolutamente seguras e sobretudo não substanciais, completando as partes faltantes de modo a dar de novo a visão autentica, em vez de assinalar à vista as adições. O rigor de aplicação dessas normas poderá ser atenuado proporcionalmente à menor ou imperfeita qualidade formal, quando o monumento não atingir a plenitude expressiva e for definível como manifestação de linguagem, confirmando, contudo que a prevalência deve ser sempre dada aos valores figurativos."
Cesare Brandi - 1906/1988
Cesare Brandi, dirigiu o Instituto Central de Restauração de 1939 a 1961 e escreveu a Teoria del Restauro (1963) que foi uma síntese dos seus textos publicados desde os anos 40 e veio a influenciar profundamente a Carta del Restauro Italiana de 1972. 
  • Restauração de produtos industriais, voltada para recuperar a sua funcionalidade.
  • Restauração das obras de arte, que leva em consideração seus aspectos estéticos e históricos.


O objetivo era o de conservar a autenticidade material da obra e restabelecer a sua "unidade potencial" e em caso de conflito entre aspectos estéticos e históricos, Brandi, afirmou que deveria ser dada prioridade ao primeiro.

Sustentou que o termo restauro é concebido para intervenções que dão nova eficiência a qualquer produto da atividade humana considerando essa acepção "pré-conceitual". Ao de evoluir daí analisou que tipo de produto da atividade humana esse conceito se aplicava. Tinha-se assim uma proposta para restauro relativo a objetos industriais, restituindo-se a funcionalidade, e outra relativa a obras de arte.

Especificou que algumas obras de arte podiam ter podiam ter objetivos funcionais, a arquitetura. Apresentou assim seu conceito de obra de Arte:
"Revelar-se-á prontamente que o especial produto da atividade humana ao qual se dá o nome de obra de arte, o é pelo fato de um singular reconhecimento que vem à consciência: reconhecimento duplamente singular, seja pelo fato de dever ser efetuado toda a vez por um só individuo, seja porque não pode ser motivado de outra forma a não ser pelo reconhecimento que o individuo singular faz dele".
Qualquer comportamento em relação à obra de arte, inclusive o restauro, dependeria do reconhecimento da obra de arte como tal, esta, condiciona a restauração e não o contrário.
Defendeu duas instancias que a obra de arte possui:
  • Estética, correspondente à "artisticidade".
  • Histórica, relacionada a uma produção humana de um determinado lugar e que se encontra em um determinado tempo e lugar. 
Sua definição de restauração:
"o restauro constitui o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dupla polaridade estética e histórica, com vistas à sua transmissão ao futuro."
Primeiro axioma:
"restaura-se somente a obra de arte"
Sustentou que matéria e imagem são uma extensão da outra, que é a instancia estética que detém a primazia pois, a singularidade de uma obra de arte em relação aos outros produtos da atividade humana não depende da sua materialidade mas sim do seu carácter artístico, não menosprezando o aspecto histórico.

Segundo axioma:
"o restauro deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar qualquer traço da passagem da obra de arte no tempo" 
Assim, o restaurador deverá uma aproximação ao objeto criticamente, olhando aos aspectos históricos e estéticos e daí fazer a sua atuação.

Brandi é mais rigoroso que Bonelli no que concerne a preservação dos traços históricos e a condenação de reconstituições.

As intervenções resultantes dessa tendência na Itália foram tendencialmente conscienciosas homogêneas, foi dado também, um grande passo na extensão dos princípios de preservação para ambientes urbanos e para a paisagem.

Neste contexto, surgiu a Carta de Veneza em 1964.

Principais teóricos:

  • Cesare Brandi
  • Pietro Gazzola 
  • Renato Bonelli
  • Roberto Pane

Influencias também de:

  • Benedetto Croce
  • Giulio Carlo Argan